Dia 7 da COP30: Carta dos Povos, Banquetaço e luta por um Oceano sem Plástico são destaques deste domingo
- comunicacao5558
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Ações populares marcaram o domingo na COP30, com carta política, ato público por soberania alimentar e apelo pela saúde dos oceanos.

O sétimo dia da COP30 foi marcado pelo encerramento da Cúpula dos Povos, que chegou a mobilizar mais de 70 mil pessoas em Belém-PA e entregou oficialmente sua carta com 15 propostas por justiça climática ao presidente da conferência. O documento, fruto de dois anos de construção coletiva com mais de mil organizações, denuncia falsas soluções de mercado, pede o fim das guerras, defende a transição justa e exige protagonismo dos povos tradicionais e periféricos nas decisões climáticas globais. O ato de encerramento, que contou com a presença de autoridades como Marina Silva e Cacique Raoni, reafirmou a força coletiva das resistências populares na luta climática.
Entre os destaques do dia, o Ministério do Meio Ambiente lançou, em parceria com a Oceana, organizou evento sobre a Estratégia Nacional Oceano sem Plástico, um plano inédito para enfrentar a poluição marinha no Brasil. O evento reuniu representantes da sociedade civil e emocionou o público com o depoimento da navegadora Heloisa Schurmann, que relatou ter encontrado o Ponto Nemo (local mais isolado do planeta) tomado por plástico. A estratégia estabelece diretrizes até 2030 para eliminar plásticos de uso único, rastrear petrechos de pesca e envolver a sociedade na proteção dos oceanos.
Também neste domingo, lideranças da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos e Comunidades Tradicionais Extrativistas Costeiros e Marinhos (CONFREM) debateram os caminhos da educação nos maretórios, apresentando a “Escola das Marés e das Águas” como exemplo de ensino diferenciado, construído com base nos saberes dos povos do mar. Enquanto isso, o Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) reforçou em outro painel a importância da luta pelos territórios frente à especulação e às violações.
Confira os destaques do 7º dia da COP30:
Cúpula dos Povos demonstra força coletiva e apresenta carta por justiça climática

Neste domingo (16/11), chegou ao fim as atividades oficiais da Cúpula dos Povos na COP30, em Belém, com um chamado potente à continuidade da luta por justiça climática. Durante sete dias, mais de 70 mil pessoas, incluindo povos indígenas, quilombolas, pescadores e pescadoras artesanais, extrativistas, movimentos sociais, periféricos, mulheres e juventudes, ocuparam a Universidade Federal do Pará com debates, oficinas, banquetaços, atos culturais e mobilizações de rua. Após três edições ausente por falta de espaço político em outras sedes da COP, a Cúpula dos Povos voltou a acontecer com protagonismo e diversidade.
O encerramento foi marcado por um ato político e a entrega oficial de sua carta de reivindicações ao presidente da COP30, André Corrêa do Lago. O documento é resultado de dois anos de construção coletiva com mais de 1.000 organizações e reúne 15 propostas prioritárias. Entre os destaques estão o enfrentamento às falsas soluções de mercado, a defesa de uma transição justa, popular e soberana, e a exigência de que os povos tradicionais e periféricos sejam protagonistas na construção das políticas climáticas globais.
O texto foi lido por vozes diversas, carregando a força de uma articulação internacional que envolve movimentos sociais, indígenas, quilombolas, pescadores artesanais, camponeses, juventudes e organizações de 65 países. A carta denuncia o avanço do fascismo, as guerras e a financeirização da natureza como elementos que aprofundam a crise climática. Reafirma, ainda, que bens como ar, florestas, águas e terras são comuns aos povos e não devem ser apropriados por interesses privados.
A entrega do documento contou com a presença de autoridades como Marina Silva, Sonia Guajajara, Ana Toni e Guilherme Boulos, e acontece logo após a Marcha Global pelo Clima, que mobilizou cerca de 70 mil pessoas pelas ruas de Belém. O momento simboliza o esforço coletivo de levar para dentro das negociações oficiais as vozes que historicamente têm sido excluídas dos processos de decisão internacional.
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, reconheceu que a participação popular “fortalece de maneira incrível” a posição do Brasil nas negociações multilaterais. A ministra Marina Silva leu mensagem do presidente Lula reafirmando que o combate às mudanças climáticas precisa de toda a sociedade, e não apenas dos governos - e, ao entregar a carta ao presidente da COP, declarou: “André, você não está recebendo apenas uma carta, você está recebendo a chave da esperança!”
Lideranças como o cacique Raoni também reforçaram a urgência da luta. “Há muito tempo venho alertando sobre a destruição da natureza. É hora de continuar nossa missão de proteger a Terra contra os que querem o mal”, afirmou. A carta também se posiciona contra as guerras e o genocídio na Palestina, e defende o fortalecimento da solidariedade internacional e das resistências locais como caminho para enfrentar a crise.
A Cúpula termina, mas a mobilização segue. A expectativa é de que o presidente da COP30 leve as propostas da Cúpula para as plenárias da semana final da conferência. A carta final ecoa um chamado à unidade internacional: “Vamos enraizar nosso internacionalismo em cada território e fazer de cada território uma trincheira da luta global. É tempo de resistir e vencer.”
Confira fotos do encerramento da Cúpula dos Povos:
Banquetaço encerra Cúpula dos Povos com celebração da comida de verdade e justiça climática

O último ato da Cúpula dos Povos contou com um “Banquetaço” na Praça da República, em Belém-PA. O encerramento reuniu cozinhas coletivas, alimentos agroecológicos e representantes de movimentos sociais de 62 países em um ato político e cultural pela soberania alimentar e pelo direito à comida de verdade.
A atividade foi uma verdadeira celebração do direito humano à alimentação adequada e da comida de verdade, do mar e do campo direto à mesa. Além do banquete coletivo, a programação de encerramento contou com apresentação do cantor paraense Nilson Chaves e discursos de representantes dos movimentos sociais.
Confira fotos do Banquetaço:
Educação no tempo da maré: CONFREM promove debate sobre ensino diferenciado nos maretórios

Neste domingo (17/11), a CONFREM promoveu o evento “Escola das Marés e das Águas: uma experiência de educação diferenciada nos tempos da maré e da vida dos maretórios". O encontro reuniu lideranças comunitárias de diferentes estados brasileiros para compartilhar vivências e refletir sobre os desafios e conquistas da luta por uma educação que respeite os modos de vida dos povos das águas. Compondo a mesa, estiveram representantes do Maranhão, Bahia e Ceará, que trouxeram contribuições potentes sobre os caminhos da formação nos territórios pesqueiros e extrativistas.
A Escola das Marés e das Águas é fruto de uma construção recente e histórica da CONFREM em diálogo com o ICMBio, a CAPES e universidades públicas, que resultou no lançamento de três cursos de graduação voltados exclusivamente a comunidades tradicionais costeiras e marinhas dos estados do Maranhão, Piauí e Ceará. São cursos pensados para os maretórios, com metodologia semipresencial e avaliação adaptada à realidade local, valorizando os saberes ancestrais e o reconhecimento coletivo dos territórios. Trata-se de uma experiência pioneira de educação superior pública que alia conservação da natureza, justiça educacional e soberania dos povos do mar.
Durante o evento, Lucas Borges, liderança CONFREM na Bahia, destacou as dificuldades enfrentadas pelos jovens que vivem nas reservas extrativistas para acessar o ensino formal e construir um futuro em seus próprios territórios. Beto Pescador, liderança da CONFREM no Maranhão, reforçou que a articulação nacional é fundamental para que essas oportunidades não fiquem restritas a poucos lugares. Ambos defenderam a ampliação do projeto e o fortalecimento de políticas públicas que garantam a permanência dos jovens em suas comunidades com dignidade, autonomia e acesso a formação técnica e superior de qualidade.
Mais do que uma proposta educacional, a Escola das Marés é uma resposta política à invisibilidade histórica das populações tradicionais nos processos de formulação das políticas públicas. A iniciativa reafirma que não há justiça climática sem justiça educacional, e que os povos das águas devem ser protagonistas na construção dos caminhos para um futuro sustentável, justo e baseado no bem viver.
Saiba mais sobre a Escola dos povos das Marés e das Águas:
Oceano sem Plástico: evento destaca estratégia nacional e reforça urgência de enfrentar a crise da poluição marinha

Neste domingo (17/11), o Ministério do Meio Ambiente, em parceria com a Oceana Brasil, realizou o evento “Estratégia Nacional Oceano sem Plástico: mais um chamado à ação climática”, na Casa Vozes do Oceano, como parte da programação paralela à COP30. O encontro marcou a apresentação da Estratégia Nacional Oceano sem Plástico, um plano do governo federal que estabelece diretrizes para combater a poluição por plásticos nos mares brasileiros entre 2025 e 2030, com foco na eliminação de plásticos descartáveis, rastreamento de petrechos de pesca e promoção da economia circular.
Apesar de o tema do plástico estar ausente das plenárias oficiais da COP30, o evento mostrou que a sociedade civil e setores do governo estão atentos à gravidade da crise da poluição marinha. A velejadora e ativista Heloisa Schurmann emocionou o público ao relatar os impactos que testemunha nas expedições oceânicas, com oceanos cada vez mais tomados por resíduos plásticos.
Durante o evento, a navegadora e ativista Heloisa Schurmann emocionou o público ao relatar uma experiência vivida em alto-mar. Ela contou sobre a expedição até o Ponto Nemo, o local mais isolado do planeta, no meio do Oceano Pacífico, e a frustração ao encontrar o lugar tomado por lixo plástico.
"Navegamos até o ponto mais isolado do planeta, o Ponto Nemo. Sempre tive o sonho de chegar lá e encontrar o ponto mais isolado do planeta, imaginava um lugar lindo e maravilhoso. E qual foi a nossa decepção de chegar lá e encontrar esse lugar? Ele estava literalmente invadido por plástico, por todos os lados", lamentou Heloisa, reforçando a urgência de ações estruturantes para combater a poluição dos mares.
Seu depoimento trouxe um alerta simbólico para a Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP), que busca eliminar gradualmente os plásticos de uso único, rastrear petrechos de pesca descartados e engajar a sociedade na construção de soluções que protejam o oceano.
Povos das Águas em movimento: territórios e conflitos em pauta na COP30

No evento “Terra, território e conflitos nas comunidades tradicionais pesqueiras”, realizado neste domingo na Amazon Climate Hub, lideranças do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) reforçaram a urgência do reconhecimento e da proteção dos territórios pesqueiros frente ao avanço da grilagem, da especulação imobiliária e da pesca industrial predatória.
A roda de conversa reuniu representantes de diversas regiões do Brasil, que falaram sobre violações enfrentadas por comunidades tradicionais e apontaram caminhos para garantir o direito ao território como condição para a justiça climática e a soberania alimentar.
Os povos das águas e do mar seguem em forte articulação em Belém-PA, ocupando espaços estratégicos, levando suas vozes aos centros de decisão e cobrando compromissos concretos do Estado brasileiro e da comunidade internacional com a defesa dos maretórios e o combate às falsas soluções que ameaçam seus modos de vida. As falas reafirmaram que sem território não há futuro, e que os saberes e práticas das comunidades pesqueiras são parte essencial das soluções reais para enfrentar a crise climática.
Confira as notícias de destaque do 7º Dia da COP30:
Agência Brasil: Côrrea do Lago promete levar pleitos da Cúpula dos Povos à COP30
G1: Belém tem marcha de mulheres por justiça climática que conecta Eco-92 e COP 30
Exame: De inovação diplomática a impasses políticos: o balanço da 1ª semana da COP30
UOL:Brasil evita brigas na primeira semana, mas acordo na COP30 segue incerto









































