COP30: Protagonismo feminino, defesa dos oceanos e novos pactos financeiros marcam o 5º dia
- comunicacao5558
- há 4 dias
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Mulheres, povos tradicionais e iniciativas de financiamento verde conduzem os debates que moldam o rumo da ação climática na COP30.

O quinto dia da COP30 foi marcado pelo protagonismo das mulheres na luta climática, com eventos que colocaram em evidência o papel central das lideranças femininas na gestão dos territórios, dos bens comuns e das soluções sustentáveis. Na Casa Vozes do Oceano, pescadoras artesanais reforçaram sua atuação nos maretórios e celebraram o lançamento da cartilha “Mulheres nas Ações Climáticas”. Já no painel “Justiça Climática com Protagonismo Feminino”, a ministra Márcia Lopes destacou que garantir espaço de decisão às mulheres é essencial para a efetividade das políticas públicas.
A pauta oceânica também ganhou espaço na Zona Azul com o evento da UN-Oceans que defendeu a urgência de integrar os compromissos globais sobre clima, biodiversidade e direitos humanos. O encontro reforçou que o oceano é essencial para regular o clima, conservar a biodiversidade e garantir segurança alimentar, destacando a necessidade de sinergias entre tratados internacionais como o Acordo de Paris e o Marco Global da Biodiversidade.
Também foi destaque a publicação da Sumaúma sobre a luta dos povos do mar contra falsas soluções como a economia azul predatória e a expansão de eólicas offshore sem consulta adequada.
No campo das finanças climáticas, duas iniciativas relevantes foram anunciadas: o 4º Leilão do Eco Invest Brasil e o avanço do compromisso internacional Belém 4X. Enquanto o Eco Invest impulsiona cadeias da bioeconomia e do turismo sustentável com foco na Amazônia, o Belém 4X mobiliza 23 países para quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035. Ambas iniciativas apontam para um modelo de desenvolvimento que alia conservação ambiental, justiça climática e inclusão social, reforçando que as soluções precisam ter as comunidades e os povos tradicionais no centro das decisões.
Ainda na sextata-feira, lideranças Munduruku protagonizaram um protesto em frente à entrada da Zona Azul, bloqueando o acesso por horas para denunciar projetos como a Ferrogrão e o Plano Nacional de Hidrovias, que ameaçam seus rios e modos de vida. Após a mobilização, representantes do povo Munduruku se reuniram com as ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas), além do presidente da COP30, André Corrêa do Lago.
No encontro, entregaram uma carta com reivindicações e cobraram diálogo direto com o presidente Lula. “A decisão é coletiva e precisa ser escutada nos territórios”, afirmou a ativista Alessandra Munduruku, em mais um forte chamado por consulta prévia, escuta ativa e justiça territorial real.
Confira os destaque do 5º dia da COP30:
Mulheres lideram ações por justiça climática no 5º dia da COP30

O quinto dia da COP30 foi marcado pelo protagonismo feminino nos debates climáticos, com mulheres de diversas regiões e setores ocupando espaços estratégicos para reafirmar seu papel central na defesa dos territórios, dos saberes tradicionais e das soluções justas para a crise climática. Na Casa Vozes do Oceano, o evento “Mulheres e seus Maretórios nas lutas pela Justiça Climática”, organizado pela CONFREM e organizações parceiras, reuniu lideranças femininas da pesca artesanal e da sociobioeconomia para partilhar experiências e reforçar a importância das mulheres na gestão dos bens comuns e na construção de alternativas sustentáveis nos territórios costeiros e marinhos.
Durante a roda de conversa, ganhou destaque a cartilha “Mulheres nas Ações Climáticas”, lançada recentemente pelo Ministério das Mulheres em parceria com a Agência de Cooperação Alemã (GIZ). O material apresenta contribuições fundamentais de mulheres dos territórios para as políticas públicas climáticas, reforçando que não há justiça climática sem igualdade de gênero, participação política e valorização dos saberes tradicionais.
Já no painel “Justiça Climática com Protagonismo Feminino”, promovido pelo Grupo Mulheres do Brasil como parte da COP das Mulheres, a ministra Márcia Lopes afirmou que o Governo Federal está comprometido em colocar as mulheres no centro das políticas climáticas. Ela defendeu que o protagonismo feminino não é simbólico, mas uma condição para políticas públicas eficazes e enraizadas nos territórios. “Não basta proteger as mulheres, é preciso garantir que elas liderem, opinem, proponham, fiscalizem e transformem”, afirmou.
As iniciativas evidenciam que, em meio à crise climática, as mulheres seguem sendo protagonistas da resistência, da reconstrução e da esperança. Dos Maretórios aos centros urbanos, elas são guardiãs dos saberes, articuladoras de redes e motoras de transformação, reafirmando na COP30 que não há transição justa sem justiça de gênero.
Oceano em foco na Zona Azul: evento defende sinergias entre clima, biodiversidade e direitos humanos
A pauta oceânica conquistou espaço na programação da Zona Azul com o evento “Ocean-climate-biodiversity nexus – leveraging synergies across frameworks” (Nexo oceano‑clima‑biodiversidade – aproveitando sinergias entre diferentes estruturas internacionais, em tradução livre), organizado pela UN-Oceans.
O encontro reuniu diversas agências da ONU para debater como fortalecer a cooperação internacional e integrar os compromissos globais relacionados ao oceano, ao clima e à biodiversidade. A discussão destacou a importância dos oceanos como reguladores do clima, principais sumidouros de carbono e habitat de milhões de espécies, além de essenciais para a adaptação climática, segurança alimentar e a proteção de direitos humanos.
O evento reforçou que é urgente aproveitar as interconexões entre os acordos internacionais, como o Acordo de Paris, o BBNJ e o Marco Global da Biodiversidade, para potencializar ações conjuntas e garantir respostas mais eficazes à crise planetária.
Também foram discutidas estratégias de capacitação dos países para promover uma governança oceânica sustentável, equitativa e baseada em direitos. Embora ainda pouco presente nas negociações centrais da COP, a agenda oceânica mostra sua força na busca por contribuições concretas para enfrentar os desafios da mudança climática e da perda de biodiversidade.
Carta do CPP à COP30 denuncia injustiça climática e defende transição energética popular

Durante a Cúpula dos Povos na COP30, em Belém, o Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) divulgou uma carta política que reafirma sua missão profética e pastoral na defesa da Casa Comum e dos territórios pesqueiros tradicionais. O documento destaca os impactos da crise climática sobre os povos das águas, denuncia o racismo ambiental e rejeita falsas soluções de mercado, como os créditos de carbono e a “economia verde”.
O documento defende uma transição energética justa, popular e comunitária, construída a partir dos saberes tradicionais e do protagonismo das comunidades. A carta também denuncia os megaprojetos de energia e infraestrutura que ameaçam os territórios e convoca a COP30 a reconhecer os povos das águas como sujeitos políticos e não apenas figurantes nos debates climáticos.
A luta pelo oceano na COP30: entre alertas climáticos, disputas por territórios e a defesa dos maretórios

A matéria especial publicada nesta sexta-feira (14/11) pela Sumaúma traz um amplo panorama sobre a importância vital do oceano frente à crise climática e às disputas por sua governança. A reportagem de Claudia Antunes mergulha na atuação do Ministério do Meio Ambiente e nos desafios impostos pela herança de retrocessos e pela nova onda de investimentos na chamada “economia azul“, conceito criticado por comunidades costeiras por esconder práticas predatórias sob o verniz da sustentabilidade.
A reportagem mostra que, mesmo com avanços recentes em políticas públicas e no reconhecimento do papel do oceano no Acordo de Paris e na NDC brasileira, a realidade é marcada por lacunas no planejamento participativo e pelo avanço de setores como petróleo, eólicas offshore e aquicultura industrial. O texto destaca a importância de fortalecer os ecossistemas costeiros como barreiras naturais à crise climática e alerta para os impactos do aquecimento dos mares, acidificação e perda de biodiversidade.
O Instituto Linha D’Água foi citado como uma das organizações que vêm reforçando, em parceria com comunidades pesqueiras tradicionais, a necessidade de um Planejamento Espacial Marinho (PEM) mais justo e inclusivo. Defendemos que pescadoras e pescadores artesanais não podem ser tratados apenas como ”stakeholders”, mas como detentores de direitos sobre os maretórios que habitam e cuidam.
A reportagem reforça o papel crucial desses povos na defesa do oceano como bem comum e território de vida. Leia a reportagem completa na Sumaúma: A batalha pelo oceano na COP30: do capitalismo fóssil à controversa ‘economia azul’.
Financiamento verde e energia limpa ganham força com foco em Amazônia e transição justa

Na COP30, o Brasil se apresenta como protagonista nas soluções climáticas com justiça social e territorial. O 5º dia da conferência foi marcado por dois anúncios estratégicos: o lançamento do 4º Leilão do Eco Invest Brasil, voltado à bioeconomia e ao turismo sustentável na Amazônia, e o fortalecimento do Belém 4X, compromisso internacional que une 23 países para quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035.
Enquanto o Eco Invest aposta em instrumentos financeiros inovadores para impulsionar cadeias produtivas sustentáveis, o Belém 4X busca acelerar a transição energética por meio da articulação entre governos, setor privado e organismos multilaterais. Juntas, essas ações apontam para um futuro onde desenvolvimento econômico, conservação ambiental e justiça climática caminham lado a lado.
O Instituto Linha D’Água acredita que a construção desse novo modelo de desenvolvimento passa necessariamente pela centralidade das comunidades locais e povos tradicionais. O turismo de base comunitária, quando alinhado à conservação dos territórios e ao fortalecimento das economias da sociobiodiversidade, é uma poderosa estratégia de geração de renda, inclusão social e valorização cultural.
Para isso, é fundamental que esses povos estejam no centro das decisões e se tornem protagonistas das soluções climáticas justas.
Após protesto, Munduruku entregam demandas ao governo e cobram reunião com Lula durante COP30

Após bloquearem por horas o acesso à Blue Zone da COP30, lideranças Munduruku se reuniram com o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, e com as ministras Sonia Guajajara (Povos Indígenas) e Marina Silva (Meio Ambiente). Durante o encontro, entregaram um documento com reivindicações que incluem a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que institui o Plano Nacional de Hidrovias com impactos sobre os rios Tapajós, Madeira e Tocantins, além do cancelamento do projeto da Ferrogrão. Os indígenas denunciam que tais iniciativas ameaçam seus territórios, reduzem a pesca, contaminam a água e comprometem a circulação nas comunidades.
A ativista Alessandra Munduruku cobrou uma reunião direta com o presidente Lula, reforçando a importância da escuta e da consulta prévia nos territórios: “Não posso falar pelo meu povo sozinha. A decisão é coletiva”. As lideranças também destacaram que a participação indígena na COP30, embora histórica, ainda é limitada diante da diversidade dos povos da Amazônia e das pautas urgentes que precisam ser atendidas com compromisso político e efetividade.
A presidência da COP reconheceu a legitimidade das demandas e afirmou que irá encaminhá-las. Já o governo federal informou que os processos de demarcação das terras Munduruku seguem em andamento, com a Funai e o Ministério da Justiça.
Em coletiva, a diretora Ana Toni afirmou que as manifestações expressam a força da COP na Amazônia e o protagonismo indígena, com mais de 900 representantes de povos indígenas credenciados. As manifestações na entrada do evento se repetiram ao longo da semana, provocando reflexões sobre escuta ativa, segurança e representatividade real nos processos de decisão climática.
Confira as notícias de destaque do 5º Dia da COP30:
G1: COP30: cientistas alertam que mundo tem só quatro anos para evitar ultrapassar 1,5°C
Folha de S. Paulo: Jovens protestam pelas ruas de Belém e pedem para serem ouvidos na COP30
G1: COP30: Amazonas lança cartilha de regularização fundiária para toda Amazônia Legal
Sumaúma: "Enquanto houver uma mulher de pé, não tem ecogenocídio que nos cale"
Exame: COP30: uma ótima largada acelera o passo da implementação de ações climáticas concretas
Sumaúma: Ausentes da COP30, EUA ganham o ‘Fóssil do Dia’ de organizações da sociedade civil





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